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30 DE ABRIL DIA NACIONAL DA MULHER

Como 30 de abril virou Dia Nacional da Mulher e por que a data não 'pegou'

Tributo instituído durante a ditadura militar homenageia uma sufragista da aristocracia mineira
https://oglobo.globo.com/celina/como-30-de-abril-virou-dia-nacional-da-mulher-por-que-data-nao-pegou-23631012
JERÔNIMA
Jerônima Mesquita, sufragista mineira e inspiração para o Dia Nacional da Mulher Foto: Arte de Luiz Lopes sobre foto de arquivo



              RIO - Jerônima Mesquita nasceu em 30 de abril de 1880 em Leopoldina, Minas Gerais. Aristocrata e neta do Barão de Mesquita, ela conheceu Bertha Lutz na França e, a seu lado, destacou-se na luta pelo sufrágio feminino no Brasil. Foi responsável pelas articulações políticas entre a líder Bertha e os setores do governo de Getúlio Vargas, que endossou a demanda pelo voto feminino em 1932. Foi em homenagem a Jerônima Mesquita que, já nos anos 1980, durante a ditadura militar, foi instituído o Dia Nacional da Mulher — data que, hoje, quase ninguém sabe que existe, muito menos comemora.
               A historiadora e professora da Universidade de Brasília (UnB) Teresa Cristina de Novaes Marques explica como acontecia a articulação política e a relação de amizade entre Jerônima e Bertha:
            — A Bertha Lutz foi designada para a delegação brasileira na Conferência da ONU, em 1944, mas quem vai ao Itamaraty articular essa participação e esta ida da Bertha à ONU foi a Jerônima. Se a Bertha tinha a eloquência, dominava línguas estrangeiras e assumia posições, a Jerônima era uma pessoa que fazia as pontes, ela tinha trânsito na elite. Era uma articuladora das relações políticas.
               Junto de Bertha Lutz, Jerônima foi uma das fundadoras da Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, em 1918, que, em 1922, com a mudança no estatuto, daria origem à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, declaradamente feminista e principal grupo de luta institucional pelo sufrágio feminino no Brasil.

Jerônima era 'vista como elitista, distante'

                  A especialista da UnB explica que, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, as duas amigas se aproximaram do governo ao notar uma disposição em ceder a pautas do feminismo.
                     — A característica da Federação é que elas usavam os canais institucionais para construir alianças. Não faziam manifestações públicas, o que gerava antipatia em quem fazia. Eram vistas como elitistas e distantes — afirma Teresa Cristina. — No fundo, essa contenção na atitude pessoal ajudou a chegar perto dos homens do poder. Era uma estratégia, mas era uma atitude em que elas acreditavam. Era uma questão de estilo do feminismo: filosofia, atitude corporal, origem social das pessoas, pautas prioritárias.
                   A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino se aproximava em ideologia do feminismo liberal. Enquanto viveu na Europa, Jerônima integrou como voluntária a Cruz Vermelha de Paris e, posteriormente, a Cruz Vermelha Suíça.
                    No Brasil, ela ajudou a fundar a maternidade Pró-Matre, no Rio de Janeiro, que tinha como objetivo atender gestantes de baixa renda. Fundou o movimento bandeirante no Brasil e era ativista anti-álcool.

Postura conservadora após o golpe de 64

                      A partir do golpe de 1964, as feministas da Federação tomaram posturas conservadoras e se aproximaram do governo militar, em termos de ideologia.
                    — Elas estavam incompatíveis com a renovação do movimento feminista que acontece a partir dos anos 1970. Não enxergavam o movimento como uma forma válida, por uma questão de filosofia, de geração. Mudam as gerações, mudam os valores, e elas não se viam representadas — afirma a pesquisadora Teresa Cristina.
                         O projeto de lei que cria o Dia Nacional da Mulher foi apresentado pelo deputado federal do MDB João Menezes, em 1979, e sancionado pelo presidente João Figueiredo em 1980.
                           Confira trecho da justificativa da proposta de lei:
                          "Escolhemos o dia 30 de abril para comemorar o Dia Nacional da Mulher pelo fato de ser época preferida pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, desde o ano de 1972, que teve na pessoa de dona Jerônima Mesquita uma de suas maiores lideres e fundadoras de instituições filantrópicas como a Federação das Bandeirantes do Brasil, a Cruz Vermelha Brasileira, a Pró-Matre, o Serviço de Obras Sociais, além de entidades culturais como o Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Associação Brasileira de Educação e Instituto Brasil-Estados Unidos. Agraciada, entre outros, pelo Governo brasileiro, com a Ordem Nacional do Mérito".
                               "E, acima de tudo", continua o texto de justificativa, "a instituição do Dia Nacional da Mulher serve como marco do reconhecimento de todo o ser humano pela presença inestimável da mulher em todos os setores da atividade humana".









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